quarta-feira, 17 de abril de 2013

Teste de Português - 2012


9  Leia o texto abaixo com atenção para responder às questões.

Coisas antigas
Rubem Braga

Depois de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o meu guarda-chuva a um canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele; meu velho rancor contra o guarda-chuva cedeu lugar a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber qual a origem desse carinho.
Pensando bem, ele talvez derive do fato, creio que já notado por outras pessoas, de ser o guarda-chuva o objeto do mundo mais infenso a mudanças. Sou apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua forma primitiva. De máquinas como telefone, automóvel, etc., nem é bom falar. Mil pequenos objetos de uso mudaram de forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade, para melhor; mas mudaram.
O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos piores desregramentos futuristas e tanto abusaram que até caíram de moda. Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas. De junco fino ou pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou rico, ele se tem mantido digno.
Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem ao mesmo tempo algo de ridículo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante.
Já na minha infância era um objeto de ares antiquados, que parecia vindo de épocas remotas, e uma de suas características era ser muito usado em enterros. Por outro lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu feitio grave, o costume leviano de se perder, de sumir, de mudar de dono. Ele na verdade só é fiel a seus amigos cem por cento, que com ele saem todo dia, faça chuva ou sol, apesar dos motejos alheios; a estes, respeita. O freguês vulgar e ocasional, este o irrita, e ele se aproveita da primeira distração para sumir.
Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honrado. Ali está ele, meio aberto, ainda molhado, choroso; descansa com uma espécie de humildade ou paciência humana; se tivesse liberdade de movimentos não duvido que iria para cima do telhado quentar-se ao sol, como fazem os urubus.
Entrou calmamente pela era atômica, e olha com ironia a arquitetura e os móveis chamados funcionais: ele já era funcional muito antes de se usar esse adjetivo; e tanto que a fantasia, a inquietação e a ânsia da variedade do homem não conseguiram modificá-lo em coisa alguma.

VOCABULÁRIO:

* infenso: contrário.                                               * pinho: madeira de pinheiro.
*futuristas: que pensam no futuro; a frente do tempo; bastante modernos.
* austero: rígido, severo.                                       * leviano: imprudente, precipitado.
* junco: planta                                                       * motejos: zombaria, deboche, ironia.

1ª PARTE: QUESTÕES SOBRE O TEXTO

01. “Pensando bem, ele talvez derive do fato...” (2.° parágrafo)
No trecho acima, o pronome sublinhado substitui uma palavra ou expressão já presente no texto. Assinale a alternativa em que traga essa palavra ou expressão.

a) “certa simpatia”
b) “meu velho rancor contra os guarda-chuvas”.
c) “guarda-chuva”.
d) “origem desse carinho”.
e) “origem desse carinho”.

02. “Sou apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua forma primitiva.”

      Com a afirmação acima, o autor demonstra que

a) quarenta anos é muito tempo para que os objetos permaneçam os mesmos.
b) quarenta anos é pouco tempo para que os objetos mudem tanto.
c) na infância, os objetos parecem diferentes daquilo que realmente são.
d) é natural que os objetos mudem muito em quarenta anos.
e) é um grande absurdo que os objetos mudem para pior.

03.  Leia a afirmação abaixo e marque X na opção que responde à questão:


A(      ) não mudaram nada.
B(      ) mudaram muito pouco.
C(      ) mudaram muito.
D(      ) não houve mudança significativa.
E(      ) pouca importância têm essas invenções.

04. O autor compara os guarda-chuvas com as sombrinhas.

       a)      Por que as sombrinhas são “irmãs” dos guarda-chuvas?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
       
      b)      Escreva a consequência do fato apresentado abaixo:

 05. Que fato deu origem à consequência apresentada a seguir:

O HOMEM NÃO CONSEGUIU MODIFICAR O GUARDA-CHUVA EM COISA ALGUMA.
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________

06.  Assinale as alternativas que apresentam somente características humanas atribuídas ao guarda-chuva.

a) “de algodão ou de seda animal”, “funcional”, “digno”
b) “costume leviano de sumir”, “fiel aos amigos”, “ar honrado”
c) “pequena barraca ambulante”, “funcional”, “feitio grave”
d) “digno”, “de junco fino ou pinho vulgar”, “fiel aos amigos”
e) “respeitador dos amigos”, “de junco ou pinho vulgar”, “choroso”

07. No texto, o guarda-chuva é comparado a uma “pequena barraca ambulante” porque ambos

a) não se alteraram com o tempo e têm dimensões e custos reduzidos.
b) têm algo de ridículo, de fúnebre e de vulgar.
c) protegem contra o mau tempo e podem ser carregados de um local para outro.
d) são engenhosos e curiosos e têm pequenas proporções.
e) assemelham-se às sombrinhas e são portáteis.

08. Identifique o processo de formação utilizado nas alternativas abaixo, justificando sua resposta.
a) 
Processo de formação: __________________
_____________________________________
Justificativa: ___________________________
_____________________________________










   b) f o r m a                
    r e f o r m a                       
   d i s f o r m a           
  t r a n s f o r m a              
  c o n f o r m a
    i n f o r m a
      f o r m a
               José Lino Grunewald, 197?
  
    Processo de formação: (apenas das palavras destacadas) ___________________________
    Justificativa: _____________________________________________________________

  c) O passatempo foi muito bem elaborado.

   Processo de formação: ____________________________________________________
   Justificativa: ____________________________________________________________






Prova Bimestral 1ª Etapa - 2012


Leia com atenção o texto que segue.

Não chore, papai

             Embora você proibisse, tínhamos combinado: depois da sesta iríamos ao rio e a bicicleta já estava no corredor que ia dar na rua. Era uma Birmingham que Tia Gioconda comprara em São Paulo e enlouquecia os piás da vizinhança, que a pediam para andar na praça e depois, agradecidos, me presenteavam com estampas do Sabonete Eucalol.
             Na hora da sesta nossa rua era como as ruas de uma cidade morta. Os raros automóveis pareciam sestear também, à sombra dos cinamomos, e nenhum vivente se expunha ao fogo das calçadas. Às vezes passava chiando uma carroça e então alguém, querendo, podia pensar: como é triste a vida de cavalo.
             Em casa a sesta era completa, o cachorro sesteava, o gato, sesteavam as galinhas nos cantos sombrios do galinheiro. Mariozinho e eu, você mandava, sesteávamos também, mas naquela tarde a obediência era fingida.
             Longe, longíssimo era o rio, para alcançá-lo era preciso atravessar a cidade, o subúrbio e um descampado de perigosa solidão. Mas o que e a quem temeríamos, se tínhamos a Birmingham? Era a melhor bicicleta do mundo, macia de pedalar coxilha acima e como dava gosto de ouvir, nos lançantes, o delicado sussurro da catraca!
             Tínhamos a Birmingham, mas era a primeira vez que, no rio, não tínhamos você, por isso redobrei os cuidados com o mano. Fiz com que sentasse na areia para juntar seixos e conchinhas e enquanto isso, eu, que era maior e tinha pernas compridas, entrava n’água até o peito e me segurava no pilar da ponte ferroviária.
              Ali mesmo me deixei ficar, a fruir cada minuto, cada segundo daquela mansa liberdade, vendo o rio como jamais o vira, tão amável e bonito como teriam sido, quem sabe, os rios do Paraíso. E era muito bom saber que ele ia dar num grande rio e este num maior ainda, e que as mesmas águas, dando no mar, iam banhar terras distantes, tão distantes que nem a Tia Gioconda conhecia.
              Eu viajava nessas águas e cada porto era uma estampa do cheiroso sabonete.

Senhores passageiros, este é o Taj Mahal, na Índia, e vejam a Catedral de Notre Dame na capital da França, a Esfinge do Egito, o Partenon da Grécia e esta, senhores passageiros, é a Grande Muralha da China – isso sem falar nas antigas maravilhas, entre elas a que eu mais admirava, os Jardins Suspensos que Nabucodonosor mandara fazer para sua amada, a filha de Ciáxares, que desafeita ao pó da Babilônia vivia nostálgica das verduras da Média.[1]
             E me prometia viajar de verdade, um dia, quando crescesse, e levar meu irmãozinho para que não se tornasse, ai que pena, mais um cavalo nas ruas da cidade morta, e então vi no alto do barranco você e seu Austin.
             Comecei a voltar e perdi o pé e nadei tão furiosamente que, adiante, já braceava no raso e não sabia. Levantei-me, exausto, você estava à minha frente, rubro e com as mãos crispadas.

Mariozinho foi com você no Austin, eu pedalando atrás e adivinhando o outro lado da aventura: aquele rio que parecia vir do Paraíso ia desembocar no Inferno.
              Você estacionou o carro e mandou o mano entrar. Pôs-se a amaldiçoar Tia Gioconda e, agarrando a bicicleta, ergueu-a sobre a cabeça e a jogou no chão. Minha Birmingham, gritei. Corri para levantá-la, mas você se interpôs, desapertou o cinto e apontou para a garagem, medonho lugar dos meus corretivos.
            Sentado no chão, entre cabeceiras de velhas camas e caixotes de ferragem caseira, esperei que você viesse. Esperei sem medo, nenhum castigo seria mais doloroso do que aquele que você já dera. Mas você não veio. Quem veio foi mamãe, com um copo de leite e um pires de bolachinha-maria. Pediu que comesse e fosse lhe pedir perdão. E passava a mão na minha cabeça, compassiva e triste.
              Entrei no quarto. Você estava sentado na cama, com o rosto entre as mãos. “Papai”, e você me olhou como se não me conhecesse ou eu não estivesse ali. “Perdão”, pedi. Você fez que sim com a cabeça e no mesmo instante dei meia-volta, fui recolher minha pobre bicicleta, dizendo a mim mesmo, jurando até, que você podia perdoar quantas vezes quisesse, mas que eu jamais o perdoaria.
              Mas não chore, papai.
          Quem, em menino, desafeito ao pó de sua cidade, sonhou com os Jardins da Babilônia e outras estampas do Sabonete Eucalol não acha em seu coração lugar para o rancor. Eu jurei em falso. Eu perdoei você.




Vocabulário:

Austin: marca inglesa de automóvel.

Birmingham: refere-se à bicicleta produzida na cidade de Birmingham, Inglaterra.

Cinamomo: arbusto ou árvore que pode atingir até 20 metros.

Coxilha: região extensa com muitas colinas, típica de parte do Rio Grande do Sul.

Desafeito: desacostumado, desabituado.

Lançante: ladeira, descida.

Piá: palavra muito usada em algumas regiões de Santa Catarina e Rio Grande do Sul para se referir a menino.

Seixo: pedra pequena e arredondada, muito comum em leitos e margens de rios.

Sesta: uma pequena cochilada no início da tarde, geralmente depois do almoço.


[1]  Os Jardins Suspensos da Babilônia foram construídos pelo rei Nabucodonosor, para agradar e consolar sua esposa preferida Amitis, que nascera na Média, um reino vizinho, e vivia com saudades dos campos e florestas de sua terra.

1ª PARTE: QUESTÕES SOBRE O TEXTO

01. O primeiro parágrafo do conto já revela ao leitor que a história está construída sobre um ato de desobediência.

     a)    COPIE do texto expressão revela isso?
   
      _________________________________________________________________________________

    b) De que desobediência se trata? Responda a essa questão marcando X na alternativa que melhor explica a desobediência narrada no texto.

(    ) Os meninos saem de bicicleta, às escondidas, para usar o presente que Tia Gioconda lhes dera.
(    ) Os meninos vão até o rio de bicicleta para causar inveja nos piás que moravam por perto.
(    ) Os meninos querem desafiar o pai e vão para o rio aproveitar o dia. Para isso, levam a bicicleta.
(    ) Os meninos vão até o rio de bicicleta no horário da sesta, o que havia sido proibido pelo pai.

      c) Encontre nesse parágrafo o trecho que expresse toda a ansiedade do protagonista em relação ao passeio até o rio e COPIE-O. (empregue aspas e reticências em sua resposta)
       ___________________________________________________________________________
     
      02. No conto que você leu, há um conflito que se desenvolve desde o início. Qual é esse conflito?
       __________________________________________________________________________
       __________________________________________________________________________           

03. Releia.

“Eu viajava nessas águas e cada porto era uma estampa do cheiroso sabonete.”

    a)    Marque X na opção que melhor define o sentido da palavra viajava, nesse contexto.

    (      ) deslizava, flutuava.
    (      ) imaginava, fantasiava.
    (      ) desejava, pensava.
    (      ) nadava, brincava.

    b) Sobre a relação existente entre a viagem do menino e as estampas do sabonete, podemos afirmar que as estampas do sabonete Eucalol

    (      ) falam de lugares muito distantes, só existentes nas imaginação do menino.
    (      ) fazem propaganda de lugares muito distantes, mas que não despertam o interesse do menino.
    (      ) falam de lugares muito distantes, maravilhosos, que mexem com a imaginação do menino.
    (      ) fazem propaganda de lugares muito distantes, já visitados pelo menino.


04. A partir de determinado momento, a tensão da narrativa cresce, numa sequência de eventos, até explodir num ato violento. Que fato determina esse momento de maior tensão (clímax)?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

05. Releia.
“Mas não chore, papai.
           Quem, em menino, desafeito ao pó de sua cidade, sonhou com os Jardins da Babilônia e outras estampas do Sabonete Eucalol não acha em seu coração lugar para o rancor. Eu jurei em falso. Eu perdoei você.”

Por que motivo o pai choraria?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

06. Embora a frase “Mas não chore, papai”, dita pelo narrador, já tivesse sido anunciada no título, ao aparecer no final do conto causa uma quebra de expectativa na leitura. Por quê?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________


2ª PARTE: CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS

Leia o diálogo que segue para responder às questões 07 e 08.



07. Observe o diálogo entre Eddie Sortudo e Hagar no segundo quadrinho. Haveria diferença de sentido se Eddie dissesse “gordos homens” ao invés de “homens gordos”? Explique sua resposta.
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

08. E no caso da fala de Hagar, no último quadrinho? Haveria diferença de sentido se ele usasse a expressão “homens grandes” em vez de “grandes homens”? Justifique.
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________

09. Observe o uso dos artigos destacados nas seguintes frases:
I.    Ganhou a  beleza nas duras lutas da vida.
II.   Até o falar dele emocionou a plateia.
III.  De repente, o novo surpreendeu a todos.
IV.  A pequena guardava nas mãozinhas um pequeno botão de rosa.

9  O processo de substantivação foi usado

(       ) em I, II e IV.
(       ) em I e III.
(       ) em II e III.
(       ) em II, III e IV.

10. Os trechos abaixo compõem um texto, mas estão desordenados. Numere-os para que componham um texto coeso e coerente e indique a opção que apresenta a sequência correta.

(   ) Essa invenção permitiu o sofisticado gosto dos reis franceses de colecionar livros, e a mesma revolução que os degolou foi responsável por abrir suas coleções ao povo.

(   ) Há cerca de 2.300 anos, os homens encontraram uma maneira peculiar de guardar o conhecimento escrito juntando-o num mesmo espaço. A biblioteca foi uma entre outras das brilhantes ideias dos gregos, que permanecem até hoje.

(   ) Apesar da resistência da Igreja, a informação começou a girar mais rápido com a invenção da imprensa de Gutemberg.

(   ) Assim, as bibliotecas passaram a ser "serviço de todos", como está escrito nos anais da maior biblioteca do mundo, a do Congresso, em Washington, que tem 85 milhões de documentos em 400 idiomas diferentes.

(    ) Depois deles, a Idade Média trancou nos mosteiros os escritos da antiguidade clássica e os monges copistas passavam o tempo produzindo obras de arte.

a) 1, 3, 5, 2, 4.            b) 3, 2, 4, 5, 1.           c) 2, 3, 5, 4, 1.       d) 4, 1, 3, 5, 2.       e) 5, 4, 1, 3, 2.







terça-feira, 16 de abril de 2013

REAVALIAÇÃO - 2012


O texto a seguir é uma lenda dos índios bororos, que vivem no leste do Mato Grosso. Quem escreveu esta versão foi Clarice Lispector, uma das mais importantes escritoras brasileiras. Leia a lenda e conheça um pouco da visão de mundo do indígena brasileiro e de seu modo de viver.

Como nasceram as estrelas

Pois é, todo mundo pensa que sempre houve no mundo estrelas pisca-pisca. Mas é erro. Antes os índios olhavam de noite para o céu escuro – e bem escuro estava esse céu. Um negror. Vou contar a história singela do nascimento das estrelas.

Era uma vez, no mês de janeiro, muitos índios. E ativos: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não faziam coisa alguma: deitavam-se nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só as mulheres cuidavam do preparo dela para terem todos o que comer.
Uma vez elas notaram que faltava milho no cesto pra moer. Que fizerem as valentes mulheres? O seguinte: sem medo enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca.
Quando saíam de debaixo das copas, encontravam o calor, bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos. Mas sempre procurando milho porque a fome era daquelas que as faziam comer folhas de árvores. Mas só encontravam espigazinhas murchas e sem graça.
            – Vamos voltar e trazer conosco uns curumins. (Assim chamavam os índios as crianças.) Curumin dá sorte.
            E deu mesmo. Os garotos pareciam adivinhar as coisas: foram retinho em frente e numa clareira da floresta – eis um milharal viçoso crescendo alto. As índias, maravilhadas, disseram: vamos colher muita espiga. Mas os garotinhos também colheram muitas e fugiram das mães, voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que logo se acabou. Só então tiveram medo das mães, que reclamariam por eles comerem tanto. Podiam esconder numa caverna a avó e o papagaio porque os dois contariam tudo. Mas – e se  as mães dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os colibris para que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram, ficaram assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram, essas mães nervosas, subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles.
            Aconteceu uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão, transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes.
            Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como sabe, “sempre” não acaba nunca.

Clarice Lispector. Doze lendas brasileiras. Rio de janeiro: Rocco, 2000.

VOCABULÁRIO:

* Negror: escuridão intensa.                                      * Buliçoso: que se move sem parar, agitado.                                            
* Singela: simples.                                                    * Colibri: beija-flor.
* Ativos:  espertos, dinâmicos.                                  
* Viçoso: que cresce e se desenvolve saudável.
* Taba: aldeia indígena.
* Enfurnar-se: embrenhar-se, penetraram.


QUESTÕES SOBRE O TEXTO

" Assim como os contos, as histórias em quadrinhos e as fábulas, as lendas são narrativas e têm a seguinte estrutura.

QUESTÃO 01: Identifique esses momentos no texto lido, relacionando as duas colunas.

QUESTÃO 02: Releia.
        “Mas os garotinhos também colheram muitas e fugiram das mães voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que logo se acabou. Só então tiveram medo das mães que reclamariam por eles comerem tanto.”


a) Por que os curumins ficaram com medo das mães?
   Porque haviam comido demais, e o bolo de milho havia acabado.


b) Que ideia tiveram para fugir delas?
      Pediram a um colibri que amarrasse uma corda no céu e subiram por meio dela até o céu.



QUESTÃO 03; Além da origem das estrelas, o texto explica também a origem de qual outro elemento da natureza. Explique.
      Explica a origem das onças, que são as mães “nervosas” dos curumins.




QUESTÃO 04: O que pode ser considerado real nesta lenda por revelar o modo de vida e a cultura desse povo indígena?
        O fato de as mulheres fazerem o trabalho da casa, saírem para procurar comida, os homens
Caçarem, pescarem, guerrearem, as pessoas da tribo viverem em tabas, dormirem em redes etc.




QUESTÃO 05: Na lenda, o que a atitude dos curumins tem a ver com a origem das estrelas?
        As estrelas são os curumins que não mais puderam descer do céu.




QUESTÃO 06: Releia o final da lenda.

     “Mas, quanto a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se sabe, ‘sempre’ não acaba nunca.”
" Quem é que, nesse trecho, afirma que as estrelas são mais do que curumins, são “os olhos de Deus vigiando para que tudo corra bem”?
      O narrador. (Aqui não aceitamos a resposta: O AUTOR/CLARICE LISPECTOR, porque foi bem
trabalhado em sala a diferença entre AUTOR  e NARRADOR).



QUESTÃO 07: Uma narrativa desenvolve-se por meio de fatos ou ações que dão origem a outros fatos ou ações. Observe.




"  Identifique no texto e escreva as consequências de cada fato apresentado a seguir.



a) CAUSA: As mulheres indígenas acham que os curumins dão sorte.

CONSEQUÊNCIA:
    Elas vão buscar os curumins para ajudá-las a encontrar milho.


b) CAUSA: Os curumins encontram muitas espigas.

CONSEQUÊNCIA:
     As mães e os curumins colhem muitas espigas.


c) CAUSA: Os curumins voltam para a taba e pedem à avó que faça um bolo com as espigas.

CONSEQUÊNCIA:
       Eles comeram todo o bolo.



d) CAUSA: Os curumins sentem medo das mães.

CONSEQUÊNCIA:
     Eles resolvem subir por um cipó amarrado ao céu.


e) CAUSA: As mães sobem atrás dos filhos e cortam o cipó.

CONSEQUÊNCIA:
     Os curumins não podem mais descer e viram estrelas; as mães viram onças.


QUESTÃO 08: Sobre o foco narrativo desse texto, responda.

"  Que tipo de narrador temos na lenda? Explique sua resposta e, em seguida, copie um trecho que a comprove.
      Narrador-observador, pois ele não participa da história, apenas conta o que sabe ou observa.
Comprova tal resposta qualquer trecho que tenha a presença de verbos e pronomes de terceira
pessoa.


CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS


QUESTÃO 09: Leia este poema.

Se o poeta falar num gato, numa flor,

num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade...
se falar numa esquina mal e mal iluminada...
numa sacada... num jogo de dominó...
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade...
se falar na mão decepada no meio de uma escada de caracol...
Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá... Que importa?
Todos os poemas são de amor!

                                                           Mário Quintana. Quintana de bolso. Porto Alegre> L&PM, 2010.

a) Nos trechos destacados, o eu lírico apresenta as várias possibilidades de assunto de um poema. Que tempo e modo verbal foram empregados para apresentar essas possibilidades ao leitor.
    Futuro do subjuntivo.

b) Por que foram empregados o tempo e o modo indicado por você na questão anterior?
  Porque o eu-lírico apresenta possibilidades de assunto de um poema. Como são possibilidades,
 não são fatos que indicam certeza, mas, hipótese.


QUESTÃO 10: Compare as frases abaixo.

(A) As mulheres indígenas trabalhavam para sustentar a casa.

(B) As mulheres indígenas trabalharam para sustentar a casa.

" Podemos dizer que as frases acima possuem o mesmo sentido? Justifique sua resposta, considerando seus conhecimentos sobre TEMPO  e MODO verbal.
    Não possuem o mesmo sentido. Na frase (A), o verbo foi empregado no pretérito imperfeito
do indicativo, trabalhando com a ideia de uma ação inacabada. Ação que, por algum motivo, foi
interrompida. Também pode indicar uma ação contínua, num tempo pretérito. Na frase (B), temos
uma ação concluída, acabada. A primeira forma está no pretérito imperfeito; a segunda, imperfeito.

QUESTÃO 11: Leia o folheto.

" O texto ao lado apresenta informações importantes sobre como se proteger contra a DENGUE.

a) Que modo verbal predomina no folheto? Por quê?
     Imperativo afirmativo, pois o texto traz uma série de orientações, comandos necessários para se proteger contra a dengue.

b) Em que pessoa estão as formas verbais que iniciam cada frase?
 Na pessoa VOCÊ.







QUESTÃO 12: A Caixa Econômica Federal, por muito tempo, apresentava em suas propagandas pela TV a seguinte mensagem:


VEM PRA CAIXA E TUDO BEM
VEM PRA CAIXA VOCÊ TAMBÉM
VEM!


"  O texto acima se tornou muito conhecido, mas sofreu algumas críticas por empregar o verbo VIR em descordo com a variedade padrão, pois não há nele uniformidade de tratamento.

a) Por que não há uniformidade de tratamento?
   Não há uniformidade, porque a forma verbal “VEM” está na 2ª pessoa do singular, do imperativo
afirmativo, quando o pronome usado para se dirigir ao interlocutor é VOCÊ, que trabalha com ver-
bos de terceira pessoa.


b) Reescreva o texto, adequando-o à variedade padrão.
  Venha pra Caixa e tudo bem/ Venha pra Caixa você também/ Venha!



QUESTÃO 13:  Leia a tira e observe as formas verbais sublinhadas. Em que modo estão as formas verbais na fala de Helga? Marque X na alternativa CORRETA.
a. indicativo, subjuntivo e imperativo                                    b. indicativo, imperativo e subjuntivo
c. imperativo, indicativo e subjuntivo                                    d. imperativo, subjuntivo e indicativo

QUESTÃO 14: Leia esta tira e observe os advérbios/expressões adverbiais: lá fora, hoje e . Que circunstâncias expressam esses advérbios? Marque X na alternativa CORRETA.
a. afirmação, tempo, intensidade                                     b. tempo, intensidade, lugar
c. lugar, tempo, lugar                                                         d. lugar, intensidade, lugar

QUESTÃO 15: Leia esta Tira de Laerte:

" Releia a fala “Levaram tudo!... Os móveis, o som, a... a...”.

- Qual o sujeito da forma verbal destacada? Justifique sua resposta.
   Sujeito indeterminado, pois o verbo está na terceira pessoa do plural e não é possível descobrir
o sujeito da oração pelo contexto.