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Leia o texto abaixo com atenção para responder às questões.
Coisas
antigas
Rubem Braga
Depois
de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o meu guarda-chuva a um
canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele; meu
velho rancor contra o guarda-chuva cedeu lugar a um estranho carinho, e eu
mesmo fiquei curioso de saber qual a origem desse carinho.
Pensando
bem, ele talvez derive do fato, creio que já notado por outras pessoas, de ser
o guarda-chuva o objeto do mundo mais infenso a mudanças. Sou apenas um
quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua
forma primitiva. De máquinas como telefone, automóvel, etc., nem é bom falar.
Mil pequenos objetos de uso mudaram de forma, de cor, de material; em alguns
casos, é verdade, para melhor; mas mudaram.
O
guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos
piores desregramentos futuristas e tanto abusaram que até caíram de moda. Ele
permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas. De junco
fino ou pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou rico, ele se tem
mantido digno.
Reparem
que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem ao mesmo tempo
algo de ridículo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante.
Já na
minha infância era um objeto de ares antiquados, que parecia vindo de épocas
remotas, e uma de suas características era ser muito usado em enterros. Por
outro lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu
feitio grave, o costume leviano de se perder, de sumir, de mudar de dono. Ele
na verdade só é fiel a seus amigos cem por cento, que com ele saem todo dia,
faça chuva ou sol, apesar dos motejos alheios; a estes, respeita. O freguês
vulgar e ocasional, este o irrita, e ele se aproveita da primeira distração
para sumir.
Nada
disso, entretanto, lhe tira o ar honrado. Ali está ele, meio aberto, ainda
molhado, choroso; descansa com uma espécie de humildade ou paciência humana; se
tivesse liberdade de movimentos não duvido que iria para cima do telhado
quentar-se ao sol, como fazem os urubus.
Entrou
calmamente pela era atômica, e olha com ironia a arquitetura e os móveis
chamados funcionais: ele já era funcional muito antes de se usar esse adjetivo;
e tanto que a fantasia, a inquietação e a ânsia da variedade do homem não
conseguiram modificá-lo em coisa alguma.
VOCABULÁRIO:
* infenso: contrário. * pinho: madeira de pinheiro.
*futuristas: que pensam no futuro; a
frente do tempo; bastante modernos.
* austero: rígido, severo. * leviano: imprudente, precipitado.
* junco: planta
* motejos: zombaria, deboche,
ironia.
1ª PARTE: QUESTÕES SOBRE O TEXTO
01. “Pensando
bem, ele talvez derive do fato...” (2.°
parágrafo)
No trecho acima,
o pronome sublinhado substitui uma palavra ou expressão já presente no texto.
Assinale a alternativa em que traga essa palavra ou expressão.
a) “certa simpatia”
b) “meu velho rancor contra os guarda-chuvas”.
c) “guarda-chuva”.
d) “origem desse carinho”.
e) “origem desse carinho”.
02. “Sou apenas
um quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua
forma primitiva.”
Com a afirmação
acima, o autor demonstra que
a) quarenta anos é muito tempo para que os objetos
permaneçam os mesmos.
b) quarenta anos é pouco tempo para que os objetos mudem
tanto.
c) na infância, os objetos parecem diferentes daquilo que
realmente são.
d) é natural que os objetos mudem muito em quarenta anos.
e) é um grande absurdo que os objetos mudem para pior.
03. Leia a afirmação abaixo e marque X na opção que responde à
questão:
A( ) não mudaram
nada.
B( ) mudaram
muito pouco.
C( ) mudaram
muito.
D( ) não houve
mudança significativa.
E( ) pouca
importância têm essas invenções.
04. O autor
compara os guarda-chuvas com as sombrinhas.
a) Por
que as sombrinhas são “irmãs” dos guarda-chuvas?
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b) Escreva
a consequência do fato apresentado abaixo:
O HOMEM NÃO CONSEGUIU MODIFICAR O GUARDA-CHUVA EM COISA ALGUMA.
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06. Assinale as alternativas que apresentam somente características humanas
atribuídas ao guarda-chuva.
a) “de algodão ou de seda animal”, “funcional”, “digno”
b) “costume leviano de sumir”, “fiel aos amigos”, “ar
honrado”
c) “pequena barraca ambulante”, “funcional”, “feitio grave”
d) “digno”, “de junco fino ou pinho vulgar”, “fiel aos
amigos”
e) “respeitador dos amigos”, “de junco ou pinho vulgar”,
“choroso”
07. No texto, o
guarda-chuva é comparado a uma “pequena barraca ambulante” porque ambos
a) não se alteraram com o tempo e têm dimensões e custos
reduzidos.
b) têm algo de ridículo, de fúnebre e de vulgar.
c) protegem contra o mau tempo e podem ser carregados de um
local para outro.
d) são engenhosos e curiosos e têm pequenas proporções.
e) assemelham-se às sombrinhas e são portáteis.
08. Identifique o processo de formação
utilizado nas alternativas abaixo, justificando sua resposta.
a)
Processo
de formação: __________________
_____________________________________
Justificativa:
___________________________
_____________________________________
b) f o r m a
r e f o r m a
d i s f o r m a
t r a n s f o r m a
c o n f o r m a
i n f o r m a
f o r m a
José Lino Grunewald, 197?
Processo de formação: (apenas das palavras destacadas)
___________________________
Justificativa: _____________________________________________________________
c)
O passatempo foi muito bem elaborado.
Processo de formação:
____________________________________________________
Justificativa:
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