O texto a seguir é uma lenda dos índios bororos, que vivem no leste do
Mato Grosso. Quem escreveu esta versão foi Clarice Lispector, uma das mais
importantes escritoras brasileiras. Leia a lenda e conheça um pouco da visão de
mundo do indígena brasileiro e de seu modo de viver.
Como
nasceram as estrelas
Pois é, todo mundo pensa que
sempre houve no mundo estrelas pisca-pisca. Mas é erro. Antes os índios olhavam
de noite para o céu escuro – e bem escuro estava esse céu. Um negror. Vou
contar a história singela do nascimento das estrelas.
Era uma vez, no mês de janeiro,
muitos índios. E ativos: caçavam, pescavam, guerreavam. Mas nas tabas não
faziam coisa alguma: deitavam-se nas redes e dormiam roncando. E a comida? Só
as mulheres cuidavam do preparo dela para terem todos o que comer.
Uma vez elas notaram que faltava
milho no cesto pra moer. Que fizerem as valentes mulheres? O seguinte: sem medo
enfurnaram-se nas matas, sob um gostoso sol amarelo. As árvores rebrilhavam
verdes e embaixo delas havia sombra e água fresca.
Quando saíam de debaixo das copas,
encontravam o calor, bebiam no reino das águas dos riachos buliçosos. Mas
sempre procurando milho porque a fome era daquelas que as faziam comer folhas
de árvores. Mas só encontravam espigazinhas murchas e sem graça.
– Vamos
voltar e trazer conosco uns curumins. (Assim chamavam os índios as crianças.)
Curumin dá sorte.
E deu mesmo.
Os garotos pareciam adivinhar as coisas: foram retinho em frente e numa
clareira da floresta – eis um milharal viçoso crescendo alto. As índias,
maravilhadas, disseram: vamos colher muita espiga. Mas os garotinhos também
colheram muitas e fugiram das mães, voltando à taba e pedindo à avó que lhes
fizesse um bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que
logo se acabou. Só então tiveram medo das mães, que reclamariam por eles
comerem tanto. Podiam esconder numa caverna a avó e o papagaio porque os dois
contariam tudo. Mas – e se as mães
dessem falta da avó e do papagaio tagarela? Aí então chamaram os colibris para
que amarrassem um cipó no topo do céu. Quando as índias voltaram, ficaram
assustadas vendo os filhos subindo pelo ar. Resolveram, essas mães nervosas,
subir atrás dos meninos e cortar o cipó embaixo deles.
Aconteceu
uma coisa que só acontece quando a gente acredita: as mães caíram no chão,
transformando-se em onças. Quanto aos curumins, como já não podiam voltar para
a terra, ficaram no céu até hoje, transformados em gordas estrelas brilhantes.
Mas, quanto
a mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas
são os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como
sabe, “sempre” não acaba nunca.
Clarice
Lispector. Doze lendas brasileiras.
Rio de janeiro: Rocco, 2000.
VOCABULÁRIO:
* Negror:
escuridão intensa. * Buliçoso: que se move sem parar,
agitado.
* Singela:
simples. * Colibri: beija-flor.
* Ativos: espertos, dinâmicos.
* Viçoso: que cresce e se desenvolve
saudável.
* Taba: aldeia
indígena.
* Enfurnar-se:
embrenhar-se, penetraram.
QUESTÕES
SOBRE O TEXTO
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" Assim
como os contos, as histórias em quadrinhos e as fábulas, as lendas são
narrativas e têm a seguinte estrutura.
QUESTÃO 01: Identifique
esses momentos no texto lido, relacionando as duas colunas.
QUESTÃO 02: Releia.
“Mas os garotinhos também colheram
muitas e fugiram das mães voltando à taba e pedindo à avó que lhes fizesse um
bolo de milho. A avó assim fez e os curumins se encheram de bolo que logo se
acabou. Só então tiveram medo das mães que reclamariam por eles comerem tanto.”
a) Por que os curumins
ficaram com medo das mães?
Porque haviam comido demais, e o bolo de
milho havia acabado.
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b) Que ideia tiveram para
fugir delas?
Pediram a um colibri que amarrasse uma
corda no céu e subiram por meio dela até o céu.
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QUESTÃO 03; Além
da origem das estrelas, o texto explica também a origem de qual outro elemento
da natureza. Explique.
Explica a
origem das onças, que são as mães “nervosas” dos curumins.
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QUESTÃO 04: O
que pode ser considerado real nesta lenda por revelar o modo de vida e a
cultura desse povo indígena?
O fato de as
mulheres fazerem o trabalho da casa, saírem para procurar comida, os homens
|
Caçarem,
pescarem, guerrearem, as pessoas da tribo viverem em tabas, dormirem em redes
etc.
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QUESTÃO 05:
Na lenda, o que a atitude dos curumins tem a ver com a origem das estrelas?
As estrelas são os
curumins que não mais puderam descer do céu.
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QUESTÃO 06: Releia
o final da lenda.
“Mas, quanto a
mim, tenho a lhes dizer que as estrelas são mais do que curumins. Estrelas são
os olhos de Deus vigiando para que corra tudo bem. Para sempre. E, como se
sabe, ‘sempre’ não acaba nunca.”
" Quem é que, nesse trecho, afirma que as estrelas são
mais do que curumins, são “os olhos de Deus vigiando para que tudo corra bem”?
O narrador. (Aqui não aceitamos a
resposta: O AUTOR/CLARICE LISPECTOR, porque foi bem
|
trabalhado
em sala a diferença entre AUTOR e
NARRADOR).
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QUESTÃO 07: Uma
narrativa desenvolve-se por meio de fatos ou ações que dão origem a outros
fatos ou ações. Observe.
" Identifique no
texto e escreva as consequências de cada fato apresentado a seguir.
a) CAUSA: As mulheres indígenas
acham que os curumins dão sorte.
CONSEQUÊNCIA:
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Elas vão buscar os curumins para
ajudá-las a encontrar milho.
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b) CAUSA: Os curumins encontram
muitas espigas.
CONSEQUÊNCIA:
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As mães e os curumins colhem muitas
espigas.
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c) CAUSA: Os curumins voltam para
a taba e pedem à avó que faça um bolo com as espigas.
CONSEQUÊNCIA:
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Eles comeram todo
o bolo.
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d) CAUSA: Os curumins sentem
medo das mães.
CONSEQUÊNCIA:
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Eles resolvem subir por um cipó amarrado
ao céu.
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e) CAUSA: As mães sobem atrás
dos filhos e cortam o cipó.
CONSEQUÊNCIA:
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Os curumins não podem mais descer e
viram estrelas; as mães viram onças.
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QUESTÃO 08: Sobre
o foco narrativo desse texto, responda.
" Que tipo de
narrador temos na lenda? Explique sua resposta e, em seguida, copie um trecho
que a comprove.
Narrador-observador,
pois ele não participa da história, apenas conta o que sabe ou observa.
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Comprova
tal resposta qualquer trecho que tenha a presença de verbos e pronomes de
terceira
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pessoa.
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CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS
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QUESTÃO 09:
Leia este poema.
Se o poeta falar num gato, numa flor,
num vento que anda por descampados e desvios
e nunca chegou à cidade...
se falar numa esquina mal e mal iluminada...
numa sacada... num jogo de dominó...
se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade...
se falar na mão decepada no meio de uma escada de caracol...
Se não falar em nada
e disser simplesmente tralalá... Que importa?
Todos os poemas são de amor!
Mário Quintana. Quintana de bolso. Porto Alegre>
L&PM, 2010.
a) Nos trechos destacados, o
eu lírico apresenta as várias possibilidades de assunto de um poema. Que tempo
e modo verbal foram empregados para apresentar essas possibilidades ao leitor.
Futuro do
subjuntivo.
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b) Por que foram empregados o
tempo e o modo indicado por você na questão anterior?
Porque o eu-lírico
apresenta possibilidades de assunto de um poema. Como são possibilidades,
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não são fatos que indicam certeza, mas,
hipótese.
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QUESTÃO 10: Compare
as frases abaixo.
(A) As mulheres indígenas trabalhavam para sustentar a
casa.
(B) As mulheres indígenas trabalharam para sustentar a
casa.
" Podemos dizer que as frases acima possuem o mesmo
sentido? Justifique sua resposta, considerando seus conhecimentos sobre
TEMPO e MODO verbal.
Não possuem o mesmo sentido. Na frase
(A), o verbo foi empregado no pretérito imperfeito
|
do
indicativo, trabalhando com a ideia de uma ação inacabada. Ação que, por
algum motivo, foi
|
interrompida.
Também pode indicar uma ação contínua, num tempo pretérito. Na frase (B),
temos
|
uma ação
concluída, acabada. A primeira forma está no pretérito imperfeito; a segunda,
imperfeito.
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QUESTÃO 11: Leia
o folheto.
" O texto ao lado apresenta informações importantes
sobre como se proteger contra a DENGUE.
a) Que modo verbal predomina
no folheto? Por quê?
Imperativo
afirmativo, pois o texto traz uma série de orientações, comandos necessários
para se proteger contra a dengue.
b) Em que pessoa estão as formas verbais que iniciam cada
frase?
Na pessoa VOCÊ.
QUESTÃO 12: A Caixa Econômica Federal, por muito tempo, apresentava em suas propagandas pela TV a seguinte mensagem:
VEM PRA CAIXA E TUDO BEM
VEM PRA CAIXA VOCÊ TAMBÉM
VEM!
" O texto acima
se tornou muito conhecido, mas sofreu algumas críticas por empregar o verbo VIR em descordo com a variedade
padrão, pois não há nele uniformidade de tratamento.
a) Por que não há
uniformidade de tratamento?
Não há
uniformidade, porque a forma verbal “VEM” está na 2ª pessoa do singular, do
imperativo
|
afirmativo,
quando o pronome usado para se dirigir ao interlocutor é VOCÊ, que trabalha
com ver-
|
bos de
terceira pessoa.
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b) Reescreva o texto,
adequando-o à variedade padrão.
Venha pra Caixa e
tudo bem/ Venha pra Caixa você também/ Venha!
|
QUESTÃO 13: Leia a tira e observe as formas verbais sublinhadas. Em que
modo estão as formas verbais na fala de Helga? Marque X na alternativa CORRETA.
a.
indicativo, subjuntivo e imperativo
b. indicativo, imperativo e subjuntivo
c.
imperativo, indicativo e subjuntivo
d. imperativo, subjuntivo e indicativo
QUESTÃO
14: Leia esta tira e observe os advérbios/expressões adverbiais:
lá fora, hoje e lá.
Que circunstâncias expressam esses advérbios? Marque X na alternativa CORRETA.
a.
afirmação, tempo, intensidade
b. tempo, intensidade, lugar
c. lugar, tempo, lugar
d. lugar, intensidade, lugar
QUESTÃO
15: Leia esta Tira de Laerte:
" Releia a fala “Levaram
tudo!... Os móveis, o som, a... a...”.
- Qual o sujeito da forma
verbal destacada? Justifique sua resposta.
Sujeito
indeterminado, pois o verbo está na terceira pessoa do plural e não é
possível descobrir
|
o sujeito
da oração pelo contexto.
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Muito legal os textos
ResponderExcluirQue ótimo!!!
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